As crises ambientais que enfrentamos atualmente, expressas por meio de queimadas, enchentes e outros desastres naturais, são reflexos de um modelo de sociedade que prioriza o produtivismo estéril e o consumismo perdulário. Este sistema, ao invés de preservar e valorizar os recursos naturais, os exaure em um ritmo alarmante, levando a humanidade a uma rota de autodestruição. Recentemente, vimos as severas secas na Amazônia, acompanhadas por ondas de calor e frio extremos em diversas partes do país. A recente tragédia no Rio Grande do Sul, que ficou submerso por semanas devido às enchentes, foi um claro exemplo, ainda fresco em nossa memória, dos impactos devastadores desse modelo insustentável.
As queimadas, que agora se espalham pelo território nacional, denotam a completa insustentabilidade das estruturas produtivas atuais. No entanto, além dos impactos ambientais, é crucial reconhecer como os setores mais vulneráveis da população são os mais afetados. Pessoas com deficiência, que já enfrentam desafios significativos devido à precariedade de suas moradias, mobilidade dificultada, além da falta de oportunidades de trabalho e educação, cominada a uma saúde frequentemente mais fragilizada, são hiper vulnerabilizadas em contextos de desastres ambientais. O mesmo se aplica a idosos e crianças, que sofrem de forma desproporcional com as consequências dessas crises.
No caso das queimadas descontroladas, os impactos vão além das doenças respiratórias causadas pela má qualidade do ar. Esses indivíduos enfrentam problemas de saúde mental devido ao estresse constante de viver em áreas afetadas pelo fogo, além de lidar com a insegurança gerada pelas mudanças abruptas nas rotinas diárias. A precariedade das moradias, a migração forçada e a insegurança alimentar também são desafios que se agravam em tempos de crise ambiental. A escassez de alimentos e o aumento de preços, resultantes da destruição de áreas agrícolas, agravam a situação dessas parcelas precarizadas da população.
Para solucionar essa problemática complexa, é imprescindível uma mudança radical no arcabouço produtivista-consumista. Precisamos adotar modos de produção que sejam sustentáveis e harmoniosos com a natureza. Além disso, é essencial a criação de novas estruturas sociais que sejam inclusivas e justas, assegurando que os Direitos Humanos sejam concretizados e aprofundados. Somente assim será possível garantir que ninguém seja deixado para trás, construindo uma sociedade mais resiliente e equitativa diante das maiores e mais frequentes crises ambientais que se avizinham.
* André Naves é Defensor Público Federal, especialista em Direitos Humanos, Inclusão Social e Economia Política. Escritor, professor, ganhador do Prêmio Best Seller pelo livro "Caminho - a Beleza é Enxergar", da Editora UICLAP (@andrenaves.def).
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