Buranhém está entre as áreas prioritárias para conservação e recuperação. Foto Marcos Bernardes
A recuperação e conservação da vegetação nativa na Bahia perpassa pela identificação das regiões hidrográficas prioritárias em cada bioma. Essa relação foi desenvolvida em estudo do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (Ibama) e apresentada na última reunião do Comitê das Bacias Hidrográficas dos Rios Frades, Buranhém e Santo Antônio (CBH Frabs).
Por meio do estudo, a Região de Planejamento e Gestão da Água
(RPGA) Rio Frades, Buranhém, Santo Antônio, que abrange a mata atlântica, foi
identificada como uma das áreas com nível muito alto de prioridade de
conservação e recuperação, assim como a sub-bacia do Rio Preto, no cerrado, e o
Lago de Sobradinho, na caatinga.
Com auxílio da modelagem espacial multicriterial, a pesquisa
mapeou as regiões tendo como base 12 critérios alinhados ao contexto legal e
ambiental, entre eles fragilidade ambiental (áreas de preservação
permanente-APPs, áreas suscetíveis à erosão e à desertificação); relevância
para a conservação das espécies e da paisagem natural (unidades de conservação
- UCs, reservas legais, fragmentos florestais, áreas prioritárias para a
conservação da biodiversidade, relevância ambiental, percentual de vegetação
nativa); importância estratégica para formação de corredores ecológicos (APPs,
fragmentos florestais, UCs); existência de passivos ambientais (áreas
embargadas, alertas de indicativos de desmatamentos); valor histórico e
etnográfico (terras indígenas - TIs e áreas quilombolas).
A partir disso, o analista Ambiental lotado na Unidade
Técnica do Ibama em Eunápolis, na região sul, Samuel Dias Santos, explica que a
modelagem do estudo foi realizada com técnicas de álgebra de mapas no ambiente
Sistema de Informações Geográficas (SIG) do Qgis, resultando na elaboração de
mapas-sínteses.
"Com base no mapa-síntese gerado, foram consideradas
efetivamente prioritárias para a recuperação da vegetação nativa apenas aquelas
áreas classificadas com nível muito alto de prioridade, e que se encontram
desprovidas de cobertura vegetal nativa, ou seja, estão degradadas. Portanto, a
recuperação dessas áreas degradadas se faz necessário em função da sua
fragilidade ambiental e restrições de uso", aponta.
Segundo ele, a modelagem também identificou as áreas
prioritárias para a conservação. Ao contrário do conceito de recuperação,
Santos pontua que, embora essas áreas apresentam classes de prioridade alta e
muito alta do mapa-síntese, elas se encontram cobertas por vegetação nativa.
"Desta forma, por não estarem degradadas, essas áreas
não necessitam ser recuperadas, mas a vegetação nativa ainda existente
necessita ser conservada, pois também apresentam características como
fragilidade ambiental, restrições legais de uso e uma importância estratégica
para a conservação da sua biodiversidade", reitera.
Diante de tal cenário, o presidente do Comitê das Bacias
Hidrográficas dos Rios Frades, Buranhém e Santo Antônio (CBH Frabs), Marcos
Bernardes, ressalta o levantamento de dados e a organização dos critérios como
norteadores do trabalho. De acordo com ele, o estudo pode auxiliar não só na
conservação e recuperação, mas na fiscalização na região.
"A partir de diferentes critérios, uma pontuação de
maior vulnerabilidade, menor vulnerabilidade, maior prioridade, menor
prioridade. E à medida em que ele avança nessa pontuação para a Bahia, depois
disso ele chega numa pontuação daquelas áreas que são prioritárias para, por
exemplo, a restauração florestal ou para fiscalização do órgão",
acrescenta.
Impactos
Quanto às possíveis contribuições do estudo, o analista ainda
pontua o aprimoramento do planejamento territorial e da gestão ambiental das
bacias hidrográficas, junto aos comitês de bacias. Além disso, o estudo
realizado também pode impactar em outros setores, como: possibilitar a
viabilização de corredores ecológicos interligando unidades de conservação e
fragmentos florestais isolados; auxiliar os setores público e privado a
priorizar e otimizar o uso de recursos e esforços para a recuperação ou conservação
das áreas prioritárias; indicar a melhor alternativa locacional das áreas de
reserva legal; auxiliar no planejamento de operações de fiscalização e
monitoramento ambientais; auxiliar na elaboração do zoneamento de planos de
manejo de UCs e Zoneamentos Ecológico Econômicos; possibilitar que a
recuperação dessas áreas seja revertida em benefícios ambientais, sociais e
econômicos para a região; e permitir que o roteiro metodológico adotado neste
estudo possa ser replicado em outras bacias hidrográficas e adaptado para
outras áreas ou situações.
O presidente do Comitê das Bacias Hidrográficas do Lago
Sobradinho (CBH Sobradinho), Ivan Aquino, destaca a importância do estudo para
a preservação do meio ambiente e boa gestão dos recursos hídricos no estado,
considerando os atuais desafios referentes às mudanças climáticas.
"Essa iniciativa é importante para que haja um
equilíbrio, segurança, para que a balança não fique só para um lado. Creio que
também pode contribuir para a recuperação dos rios afluentes", pondera.
Já o presidente do Comitê das Bacias Hidrográficas do
Recôncavo Sul (CBHRS), Deraldo Neto, também considera que os resultados
encontrados no estudo podem contribuir para combater o desmatamento em diversas
regiões e incentivar a preservação de biomas como a mata atlântica.
"O impacto que é gerado pelo desmatamento vai provocar
diretamente uma diminuição dos recursos hídricos. Então, a preservação dessas
áreas, que a gente sabe o papel que as florestas têm, que normalmente elas
ajudam a manter o clima mais equilibrado naquela região que ela está bem
preservada, diferente daquelas áreas que ela não está", afirma.
0 Comentários