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O sexto e último dia de Bienal do Livro Bahia foi marcado pelas presenças de Rita Batista, Zélia Duncan, Allan Dias Castro, Sérgio Machado, Edivana Carvalho, Kaká Werá, Joice Berth, Pedro Rhuas e Elayne Baeta. As mesas de conversa desta quarta-feira (1), feriado nacional do Dia do Trabalhador, concentraram-se em temas como a beleza do cotidiano, os desafios de montar personagens, a forma de retratar histórias reais e outros assuntos.
No painel de abertura do último dia, com o tema 'A insustentável leveza do ser', Rita Batista, apresentadora da TV Globo, e o poeta Allan Dias Castro estiveram no Café Literário, um dos espaços da Bienal, e comentaram como fazem para manter um estado de espírito disponível e valorizar a beleza do cotidiano.
Rita contou que acredita no poder das palavras e que foi se apegando a elas para criar uma ambiência positiva a fim de acreditar e fazer as coisas acontecerem em sua vida. "Mãe Stella de Oxóssi já dizia: 'Meu tempo é agora'. E eu acredito que você tem 24h todos os dias para fazer algo a mais e melhor", disse ela.
Já Allan Castro revelou que a perda do pai e o nascimento da filha aconteceram quase ao mesmo tempo e que este movimento de partidas e chegadas lhe despertou para a beleza da vida. "Ver minha filha crescer me traz para o presente, ao privilégio que é estar vivo",
Também no Café Literário, o diretor de cinema Sérgio Machado e as atrizes Rita Santana e Edivana Carvalho trouxeram os desafios de traduzir a sociedade em seus trabalhos. Sérgio disse que precisa de um mergulho e costuma passar alguns meses no local retratado para não reproduzir estereótipos. O diretor chegou a viajar sozinho de carro pelo Brasil, dando caronas a estranhos, e conhecendo mais sobre cada história.
Edivana contou que se inspira em mulheres de bairros periféricos e que nunca esteve sozinha nesses processos de tradução. "Olho o que pensam e o que produzem de bom as pessoas que estão nestas comunidades, então trago as sabedorias das mulheres da minha família, minhas vizinhas", disse.
No painel 'A história nos transforma em outras', ainda no Café Literário, a cantora Zélia Duncan e a historiadora Heloísa Starling trouxeram suas formas de pensar e documentar acontecimentos importantes. Heloísa argumentou que o repertório de histórias impede que fatos e pessoas caiam no esquecimento. "As histórias trazem o repertório para pensarmos: 'Que brasileiros queremos ser? Como podemos nos unir para o bem comum?'", indagou.
Zélia Duncan mencionou a volta de personagens totalitárias no Brasil e como é necessário estar atento para impedir o avanço dessas ideias. "Como a gente não arrematou direito a saída dos golpistas [da ditadura de 1964], a coisa ficou frouxa e a gente tá sentindo o bafo deles até hoje. Tomara que a gente coloque uns pontos finais que não foram colocados lá atrás. É uma ameaça muito premente e precisamos usar nossa experiência contra isso".
Já no painel “Um Brasil para os Brasileiros”, Kaká Werá e Joice Berth trouxeram reflexões sobre a importância do ativismo e da produção intelectual em diversos âmbitos, desde o ambientalismo até a ciência, a história e o direito à cidade. Kaká Werá mencionou o quanto é importante a representatividade dos povos indígenas e como essa visibilidade ainda é recente. “Ainda somos invisíveis perante uma considerada parcela da sociedade que não quer nos ver enquanto sociedade”, conta Werá.
Joice Berth destacou também que existe diversidade dentro da diversidade. “Quando falamos de ser humano, a diversidade é uma riqueza, um acúmulo de saberes que vem da valorização e da multiplicidade” diz Joice, que ressalta ainda a coletividade como força dos povos. “O povo indígena sempre teve essa informação do quanto a coletividade é decisiva para os nossos ganhos sociais e para os nossos ganhos subjetivos”.
Na Arena Jovem, o painel “O Livro que Me Fez Leitor” contou com a participação da escritora Elayne Baeta, do escritor, cantor e jornalista, Pedro Rhuas, do influenciador literário e escritor, Adriel Bispo, e com mediação da jornalista e escritora Socorro Acioli. Eles debateram sobre amores, leituras e tudo que pode influenciar na escrita e nas escolhas de vida.
Durante as experiências trocadas, Elayne Baeta sinalizou que não tem um livro específico que a tornou leitora e escritora, mas que existe um que ela considera importante e especial. “Tem um livro que eu adorava, que é a história de uma lesminha que estava super atrasada para chegar nos lugares e esse livro meu pai não podia comprar e eu alugava na biblioteca da escola de sexta até segunda e sentia como se ele fosse meu naquele momento", destaca a escritora.
Já Pedro Rhuas diz que o livro que mais o marcou foi O Pequeno Príncipe. “Eu vivia muito na figura do Pequeno Príncipe. Digo até que o Pequeno Príncipe me fez desejar, me tornar mais viajante. Hoje eu sou mochileiro, fico andando de lugar para lugar e até outros países”, coloca Rhuas. Já Adriel Bispo, destacou que a literatura em si não se resume apenas no papel. “Para mim, a literatura, a arte não precisa começar com papel e se resumir a isso”, pontuou.
Fechando a programação da última mesa da Bienal do Livro Bahia, o Café Literário trouxe o painel “O Mais Belos dos Belos – Ilê Aiye faz 50 anos”, com as presenças de Vovô do Ilê, fundador do bloco Ilê Aiyê, Luciana Brito, pesquisadora, professora e historiadora, e com o poeta Alex Simões na mediação. No encontro, foi debatida a construção do bloco, sua trajetória e a força artística que ele exerce sobre a Bahia e os povos negros que o representam. O painel ainda tratou do fundamental papel do bloco na resistência contra o racismo. “Além do Carnaval, nós também lutamos por igualdade: essa é a mensagem do Ilê. Queremos liberdade, igualdade e respeito”, destaca Vovô. Concordando com a fala de Vovô, Luciana citou as histórias que não podem ser esquecidas e que foram estampadas nas ruas da cidade na década de 1990, onde movimentos negros lutavam por igualdades.
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