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Espaços de lazer inclusivos para pessoas autistas ainda são poucos no Brasil


No Brasil, onde cerca de 2 milhões de pessoas têm Transtorno do Espectro Autista (TEA), a adaptação dos espaços de lazer às necessidades neuroatípicas desses indivíduos é uma realidade ainda distante. A experiência de quem vive com TEA não é frescura: apegar-se a objetos e rotinas específicas, apresentar déficit de comunicação e de interação social; além de grande sensibilidade a estímulos sensoriais, são desafios enfrentados diariamente.

 

Algumas iniciativas vêm surgindo na busca por espaços inclusivos para pessoas com TEA, mas elas ainda são poucas, se levarmos em conta a extensão de nosso país. O Instituto Jô Clemente, em São Paulo, por exemplo, promove sessões de cinema acessíveis para autistas, em salas onde o som é mais baixo e a iluminação é à meia-luz. Parques temáticos - locais cheios de estímulos sensoriais -, também já estão se adaptando. O Beto Carrero World, em Santa Catarina, e o Hopi Hari, em São Paulo, já oferecem, inclusive, descontos e gratuidade para autistas e acompanhantes.

 

O defensor público André Naves, especialista em Direitos Humanos e Sociais, destaca a importância desses movimentos em prol de uma vida mais leve e divertida para os autistas. Ele pede que as pessoas estejam atentas para reduzir o estigma, promover a aceitação e a compreensão das diferenças individuais de cada um. "A conscientização sobre o autismo é crucial para que surjam novas iniciativas e políticas públicas inclusivas, para o maior acesso à diversão e a serviços essenciais. O que vemos até agora é muito pouco", ressalta.

 

No Grupo Chaverim, que funciona na Hebraica, na capital paulista, são oferecidas diversas atividades recreativas, culturais e educacionais que garantem melhor qualidade de vida a pessoas com deficiência intelectual e psicossocial que enfrentam dificuldades de socialização e comunicação. O local conta com uma equipe multidisciplinar de profissionais capacitados para atender as necessidades específicas de cada participante, respeitando suas potencialidades e limitações.

 

"O Chaverim é um lugar onde pessoas com vários tipos de transtornos podem se sentir à vontade, fazer amigos e aprender coisas novas. Meu filho, David, tem 31 anos e é Down com autismo moderado. Na realidade, ele só foi diagnosticado com autismo há cerca de 1 ano. Ele participa de várias atividades e adora. Quando não está no Chaverim, prefere locais ao ar livre, onde não há tanto barulho; mas frequenta até mesmo ‘baladas’ em que o som não é alto", conta a mãe de David, Sandra Goldzveig.

 

O paulistano Allan Zac Marcus é outro frequentador do Chaverim que tem TEA. Ele aponta que é preciso criar ou adaptar mais espaços de lazer para receber os autistas. "Eu vou a parques, ao Museu da Língua Portuguesa, que eu adoro, mas odeio locais com muita gente e com muito barulho. Vou ao Chaverim também porque lá consigo me relacionar melhor com outras pessoas", explica.

 

A boa notícia é que os estádios de futebol também estão se tornando mais inclusivos. O Corinthians, pioneiro na iniciativa, criou o Espaço TEA na Neo Química Arena, que atende até 160 pessoas. Outros times, como o São Paulo, o Coritiba e o Goiás seguiram o mesmo exemplo e já contam com salas sensoriais para torcedores autistas. Até mesmo nos aeroportos, como o de Congonhas, em São Paulo, espaços sensoriais estão sendo implantados para proporcionar conforto aos viajantes autistas.

 

"Precisamos que novas iniciativas sejam discutidas e implementadas em todo o país. Trabalhar por uma sociedade inclusiva deve ser um projeto de todos", enfatiza André Naves.

 

Em seu livro "Como é ser autista", a britânica Charlotte Amelia Poe lembra, por sua vez, que ambientes mais relaxados beneficiam não apenas autistas, mas a todos, em uma sociedade cada vez mais agitada. "Ao tornar os espaços públicos mais acessíveis e amigáveis, mostramos até para quem nunca percebeu, o quão estressante era visitá-los. Até que esses estímulos desnecessários sejam removidos", pontua a escritora.

 

Outros espaços inclusivos no Brasil:

 

Parque da Mônica - São Paulo/SP: Exemplo de recreação inclusiva, o parque oferece a “Sala do Silêncio” e a “Hora do Silêncio”, reduzindo estímulos sonoros e visuais; além de entrada gratuita, diariamente, para crianças autistas, e desconto para acompanhantes.

 

Ilha do Mel – Paraná: É considerada a primeira Ilha inclusiva para autistas no Brasil. Mais de 50 estabelecimentos da Ilha receberam o Selo de Empresa Amiga de Pessoa Autista por iniciativas em prol da inclusão, após capacitação de empresários e colaboradores.

 

Museu Oscar Niemeyer (MON) - Curitiba/PR: O Museu inaugurou a Sala de Acomodação Sensorial (SAS), adaptada para acolher não só pessoas autistas, mas todas as neurodivergentes, ampliando sua ação inclusiva.

 

Vale ressaltar que a criação de espaços inclusivos para pessoas autistas vai além da adaptação física em locais públicos. A neuroarquitetura, um novo modo de pensar a arquitetura, desempenha papel crucial na satisfação e acolhimento dos autistas, ao apontar a necessidade de ambientes organizados, com poucos estímulos visuais e auditivos, contribuindo deste modo para o bem-estar desses indivíduos.

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