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Você sabe a letra do
hino nacional? Do seu estado? Do município em que nasceu? Do seu time de
futebol? Mais do que isso: sabe a importância destas composições? Os hinos são
canções líricas solenes que, desde a Antiguidade, enaltecem, a partir de
profundo amor e respeito, divindades, países, estados, municípios, agremiações
esportivas, entidades religiosas e outras representações simbólicas coletivas.
Uma vez oficializadas, as canções que se tornam hinos
constituem símbolos oficiais. No Brasil, a Lei nº 5.700, de 1 de setembro
de 1971, instituiu como símbolos
nacionais oficiais a Bandeira, o Brasão, o Selo e o Hino Nacional Brasileiro,
cuja música é de Francisco Manoel da Silva e a letra é de autoria de Joaquim
Osório Duque Estrada, conforme dispõem os Decretos nº 171, de 20 de janeiro de
1890, e nº 15.671, de 6 de setembro de 1922. O que poucos sabem é que letra e melodia só foram integradas 48 anos após a morte do compositor
da melodia, que faleceu sem saber da grande
herança deixada para a nação.
“A partir da constituição formal dos estados nacionais
no século XIX, brotou forte estímulo para serem escritas canções com melodias
solenes e letras em língua materna descrevendo elementos que reforçassem o
sentimento coletivo de pertencimento e de valorização das histórias de cada
país, região e cidade”, revela o advogado Enézio de Deus, um dos raros autores vivos
de um hino e pesquisador da história do seu município.
Nascido em Retirolândia, distante 243 km de
Salvador, Enézio de Deus teve inspiração para a composição no ano de 2004, quando
trabalhava em Feira de Santana. O hino nasceu da saudade de suas origens. “E, justamente
no dia 27 de julho daquele ano, aniversário de emancipação de Retirolândia, senti
um forte desejo de pegar papel e caneta para compor uma canção que estivesse à
altura do que a nossa cidade merece”. O hino de Retirolândia foi oficializado
no ano seguinte, em 2005, por lei municipal, após sessões públicas de análise e
o devido trâmite legislativo. “É este profundo amor que sinto por ser
retirolandense que me leva a desejar o melhor para minha terra natal e a
admirar a nossa história”, emenda destacando que inseriu na letra os principais
elementos simbólicos da composição histórica, cultural, educacional e social da
sua terra, movido pelo desejo de enaltecer o município onde nasceu no interior
da Bahia, na região sisaleira, bem como seu povo simples, trabalhador e digno.
O advogado ressalta que um hino municipal, assim como
os demais, não é uma canção qualquer, porque, além de se revestir de
oficialidade, o seu lirismo e civismo diferenciados revelam muito amor às
raízes, origens, às bases fundantes e fundamentais, à cultura e à história
comum de um povo ou comunidade. “O que o diferencia das demais canções,
portanto, além do caráter oficial, é o sentimento elevado que move a sua
composição, tanto a letra como a música, gerando legitimidade social. O seu
entoar nas escolas, eventos culturais, espaços de culto e outros
momentos/locais reaviva elementos históricos comuns, enaltece o nascer e o
estar inserido naquele lugar, reaviva memórias e valoriza vínculos
primordiais”, esclarece.
Atualmente morando em
Salvador, onde atua há dezessete anos como servidor público, Enézio regressa à sua
terra natal pelo menos uma vez por mês. “Além de desfrutar da companhia dos
meus pais, demais familiares e amigos, aproveito para me renovar no chão
abençoado onde nasci, para realimentar o meu amor e o sentimento de
pertencimento, valorizar e regar vínculos primordiais, observar as mudanças que
vão naturalmente ocorrendo na cidade. É sempre uma alegria sem tamanho poder
retornar e passar dias abençoados em nosso Retiro”, conclui referindo-se carinhosamente
à sua cidade.
Sobre o autor:
Enézio
de Deus Silva Júnior, 42 anos, natural de Retirolândia-BA, é advogado, servidor
público estadual, especialista em Direito Público, mestre e doutor em Família
na Sociedade Contemporânea e autor de sete livros. Dois desses foram pioneiros no
Brasil por trazer ao debate jurídico questões sobre a comunidade LGBTQIA+: A
Possibilidade Jurídica de Adoção por Casais Homossexuais (2005, atualmente
na 5ª edição, lançado pela Editora Juruá) e União Estável entre Homossexuais: Comentários à Decisão do STF face à
ADI 4.277/09 e à ADPF 132/08 (2012,
Editora Juruá). Uma de suas obras mais emblemáticas é uma homenagem à sua
terra natal, único registro publicado sobre a história da cidade, o livro Retirolândia:
Memória e Vida (2007, Editora Juruá), cuja renda decorrente da
comercialização foi doada pelo autor à APAE do município. Na área musical, toca teclado, canta e tem mais de
cem composições de sua autoria, entre letras e músicas, e alguns CDs gravados.
Entre esses, o Hino de Retirolândia (2005) tem lugar especial no
seu repertório autoral.
O
estímulo musical vem desde a
infância. “Eu
amava, como uma criança curiosa e atenta, apreciar os discos de vinil do meu
pai e da minha mãe (de estilos variados), e cresci em um ambiente cristão de
muito contato musical”. A paixão pela música, e por extensão pelo rádio e TV, o
encorajou a fazer apresentações para pequenos públicos desde os sete anos. Guarda
até hoje o primeiro teclado adquirido nesta época de um cantor local. Foi com
esse instrumento que passou a se apresentar no Aconchego Drink’s, bar comandado por seu
irmão, além de animar aniversários, casamentos, missas de vaqueiro, comícios,
festinhas de escolas, shows de calouros e outros eventos privados e públicos.
“A música foi se impregnando em mim como esse doce e agradável perfume que
torna a minha vida mais criativa e feliz. Minha relação com a música é
de muito aprendizado e motivação. O fato de eu não a exercer como uma atividade
profissional cotidiana torna essa forma de expressão artística em minha vida
ainda mais prazerosa e criativa”, conclui.
Algumas
curiosidades sobre hino:
·
Um hino nacional, estadual ou
municipal é uma composição musical solene que evoca e
enaltece a história de um lugar, as tradições e as lutas de um povo, assim reconhecida como hino após processo
legislativo ou forte legitimidade social do seu uso sucedido de reconhecimento
formal.
·
Muitos municípios somente
reconheceram a autoria do seu hino e o oficializaram anos após o falecimento do
seu autor. Assim se deu com o Hino de Feira de Santana-BA, canção produzida em 1928
pela professora e maestrina Georgina Erisman, falecida em 1940. Ela somente foi
reconhecida formalmente como a autora de tal símbolo oficial no ano de 2006,
por meio da Lei Municipal n. 33.
·
Você sabia que antes de 1922
não havia uma letra oficial para o Hino Nacional? A composição musical do
maestro Francisco Manoel da Silva foi definida como o Hino Nacional Brasileiro
em 1890, por meio de um decreto. Mas nos 32 anos seguintes, as pessoas cantavam
o hino com letras diferentes e inadequadas. Só no dia 6 de setembro de 1922, o
hino ganhou uma letra oficial e definitiva, escrita por Osório Duque Estrada em
1909.
·
Aplaudir a execução do Hino Nacional Brasileiro durante a sua
execução é considerado desrespeito.
Segundo o Artigo 30 da Lei nº
5.700, de 1º de setembro de 1971, "durante a execução do Hino
Nacional, todos devem tomar atitude de respeito, de pé e em silêncio, os civis
do sexo masculino com a cabeça descoberta e os militares em continência".
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