O trânsito brasileiro é, por vezes, um reflexo da sociedade nacional. A ocupação de espaço pelos carros nos trajetos urbanos evidencia algumas desigualdades, principalmente a de gênero. Embora sejam maioria da população, as mulheres são pouco representadas enquanto motoristas.
É o que aponta a Secretaria Nacional de Trânsito, a Senatran. De acordo com levantamento realizado, as mulheres formam apenas 35% do total de motoristas habilitados no Brasil, somando cerca de 27 milhões de CNHs ativas. A fim de mudar essa realidade, a Chevrolet lançou uma campanha de incentivo para que mais mulheres conquistem sua carteira de motorista e, consequentemente, mais liberdade de locomoção.
O pontapé para a campanha, que levará o nome “Elas na Direção”, foi idealizado por Djamila Ribeiro. A filósofa, escritora e ativista antirracista e feminista ainda estrelará uma web série, que dará o passo a passo sobre o que as mulheres devem fazer para conquistar sua CNH. Sua filha, que tem 18 anos, ao indagar se iria ter sua habilitação antes de Djamila, que tem 42, foi quem a motivou pela busca dessa conquista.
A campanha visa auxiliar na superação das dificuldades que a própria Djamila Ribeiro enfrentou. Nas palavras dela, “aos 18 anos, eu não almejava ter uma habilitação, porque tinha que começar a trabalhar para ajudar a pagar contas. Minha mãe também não tinha habilitação e acabei perdendo meus pais muito jovem. A minha história é a de muitas mulheres do Brasil”.
A Chevrolet investirá R$ 1 milhão na ONG Plano de Menina, formando uma parceria que abrirá caminhos para um financiamento coletivo. De acordo com a diretora de marketing da General Motors, Christianne Rego, a ideia é que mais empresas, inclusive outras montadoras, se juntem ao financiamento coletivo, fortalecendo este movimento que busca ao menos equiparar o número de motoristas de ambos os sexos.
O montante, que será gerido pela própria ONG, visa dar apoio financeiro para mulheres que não têm dinheiro para poder tirar sua CNH, o que é um dos maiores impeditivos. As candidatas serão avaliadas sob critérios como necessidade de autonomia no transporte no seio da família, dificuldade no deslocamento e papel econômico que a habilitação pode representar para elas.
Uma vez cumpridos os requisitos, a candidata poderá ter sua CNH sem custo algum. Porém, de acordo pesquisas da própria Chevrolet, a questão financeira é apenas uma das barreiras enfrentadas pelas mulheres. Outro problema é psicológico: o medo acaba sendo o maior rival das mulheres no volante.
Muito disso se deve ao preconceito. Falas carregadas de machismo como “mulher no volante, perigo constante” por muito tempo serviram de desestímulo para que as mulheres conquistassem a independência de locomoção. E nada mais alheio à realidade, uma vez que são elas as motoristas mais responsáveis e cuidadosas.
Em levantamento do InfoSiga, o Sistema de Informações Gerenciais de Acidentes de Trânsito do Estado de São Paulo, as mulheres são responsáveis por somente 7% dos acidentes no trânsito, enquanto os homens formam mais de 92%, levando em conta a proporção entre eles. São elas também que levam menos multas, somente 20%. Toda essa prudência se traduz até mesmo em seguros mais baratos.
Todo o preconceito vai também na contramão da história. Bertha Benz foi a primeira mulher a dirigir um veículo, em 1888. Foi sua fortuna, investida na ideia do marido Karl Benz, que financiou o carro motorizado, o qual o próprio Karl não teve coragem de testar. Em 1889, a duquesa Anne d’Uzés foi a primeira mulher no mundo a conquistar habilitação para dirigir.
No Brasil, a primeira habilitação concedida para uma mulher só saiu em 1932, para Maria José Pereira Barbosa Lima e Rosa Helena Schorling, na cidade de Vitória, no Espírito Santo. Hoje, São Paulo possui o maior número de condutoras. São cerca de 9 milhões, enquanto o Amapá registra o menor número, com cerca de 50 mil.
A campanha visa se estender futuramente para a aquisição de carros 0 km. Contudo, já é de grande incentivo para mulheres em situação financeira complicada conseguirem a autonomia que o carro oferece, bem como a independência e o empoderamento. Mulheres que ainda não possuem um carro seu, estando habilitadas, podem optar por carros por assinatura Chevrolet, algo econômico e que satisfaz as mais diferentes necessidades.
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